Feagri em Foco
2007
Uma parceria entre a Faculdade de Engenharia Agrícola da Unicamp, o Instituto Harpia Harpyia (presidido por Dom Mauro Morelli, ex-bispo de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense) e a prefeitura de Indaiatuba (SP) vai transformar uma pequena experiência de aproveitamento de óleo de cozinha em um grande projeto de produção de biodiesel.
O projeto do "Biodiesel Urbano" virou patente acadêmica e uma idéia de negócio que deverá atender vários municípios da região de Campinas. O modelo foi apresentado ao governo federal no início de novembro.
Agora, os parceiros aguardam do governo federal o cumprimento de uma promessa: a liberação de R$ 3 milhões, recurso que financiará a construção de uma usina com capacidade para produzir 45 mil litros de biodiesel por dia. "A obra já começou. A expectativa é que a usina esteja em operação entre abril e maio", diz Antonio José da Silva Maciel, professor e pesquisador da Unicamp. A pequena unidade piloto em funcionamento hoje na cidade tem capacidade para produzir mil litros por dia.
Manejo inadequado gera consumo exagerado
O estudo realizado por Márcio, que contou com a orientação do professor Edson Eiji Matsura, está no contexto do que os especialistas classificam de agricultura de precisão. Como o nome sugere, a técnica consiste no desenvolvimento de métodos e tecnologias que assegurem maior exatidão às atividades do setor. No caso do trabalho executado pelo engenheiro agrícola, o objetivo foi avaliar a dependência espacial dos atributos físico-hídricos do solo e verificar que relações estes têm com o nível de produtividade. A cultura escolhida pelo autor da tese foi o feijão. "Optei por esse grão porque, além de ser bastante estudado, ele tem uma grande importância na dieta do brasileiro", explica.
Equipamento utilizado para estimativa da umidade em campo e avaliação da uniformidade de distribuição de água no solo O feijão tomado para estudo foi semeado no campo experimental da Feagri, como cultura de inverno, durante as safras de 2005 e 2006. A área cultivada foi dividida em quatro parcelas, cada uma medindo 20 x 30 metros. O plantio foi realizado sob os sistemas direto irrigado e não-irrigado e convencional irrigado e não-irrigado. A estimativa do conteúdo de água e a amostragem do solo foram realizadas em uma malha amostral com 60 pontos por parcela, espaçadas de três em três metros. Ou seja, ao todo foram definidos 240 pontos amostrais. O passo seguinte foi aplicar a técnica chamada Reflectometria no Domínio do Tempo (TDR, na sigla em inglês), para monitorar a umidade no solo nos pontos definidos.
Como as sondas do equipamento de TDR são importadas e caras, o engenheiro agrícola decidiu desenvolver dispositivos similares que servissem às suas necessidades. Para isso, ele teve que se valer tanto de conhecimento quanto de criatividade. A finalidade era chegar a um protótipo que tivesse baixo custo e pudesse, numa etapa posterior, vir a ser produzido em larga escala, de modo a tornar-se acessível aos agricultores. "Nós construímos as sondas a partir de fôrmas de silicone. O primeiro modelo não ficou bom, pois apresentava vazamento. Depois de alguns aperfeiçoamentos, chegamos a um modelo melhor, que serviu muito bem aos testes de campo", conta Márcio.
O pesquisador Márcio William Roque, autor do estudo: conhecimento e criatividade para desenvolver dispositivo Segundo ele, o método de construção mostrou-se operacional, uma vez que permitiu a produção de um grande número de sondas (cerca de 300) num curto espaço de tempo. "Penso que as sondas são uma alternativa às similares importadas de alto custo?, analisa. O desafio seguinte do autor da tese foi calibrar adequadamente os dispositivos de medição. A partir de uma série de cálculos e equações específicas, o engenheiro agrícola determinou o melhor ajuste possível do equipamento. Márcio revela que foram realizadas diversas calibrações, tanto em laboratório quanto no campo, para tornar as medições cada vez mais precisas. ?Uma das conclusões a que chegamos foi que a curva de calibração sugerida pela literatura não se aplica ao solo estudado. Já a curva ajustada mostrou que pode ser usada para fazer a estimativa da umidade do solo", afirma.
Por meio do acompanhamento apurado do nível de umidade do solo, esclarece Márcio, é possível usar a irrigação de modo mais racional, contribuindo assim para a redução do desperdício de água. Além disso, prossegue o engenheiro agrícola, o uso excessivo de água na agricultura pode interferir no desempenho da safra e até mesmo elevar os custos de produção. "Quando se usa água demais, aumenta-se o gasto com energia elétrica, visto que é preciso usar bombas para retirar o recurso dos rios e córregos. Além disso, a água em excesso, além de contribuir para a erosão do solo, tende a arrastar fertilizantes e defensivos agrícolas, ocasionado prejuízos aos agricultores. Uma segunda conseqüência desse problema é a contaminação do lençol freático e de cursos naturais d?água", adverte o pesquisador.
Cobrança gera recursos para preservação de mananciais
A cobrança pelo uso da água foi instituída no Brasil pela lei federal 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Em São Paulo, legislação semelhante passou a vigorar em janeiro de 2006. O objetivo da medida é estimular o uso racional da água, bem como gerar recursos financeiros para investimentos em projetos de recuperação e preservação dos mananciais que compõem as bacias hidrográficas. De acordo com a Agência Nacional de Águas (ANA), órgão encarregado de implementar a política nacional de recursos hídricos, a cobrança não é um imposto, "mas um preço público fixado a partir de um pacto entre os usuários de água, sociedade civil e poder público no âmbito do Comitê de Bacia". Em outras palavras, em razão da sua crescente escassez, a água deixou de ser um bem de uso livre para se transformar num bem de valor econômico. As bacias hidrográficas do rio Paraíba do Sul (SP, RJ e MG) e dos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí (SP e MG) foram as primeiras a adotar tal instrumento.
Perguntas e respostas
O que é a cobrança pelo uso da água?
A cobrança é um dos instrumentos de gestão dos recursos hídricos instituídos pela Lei 9.433/97, que tem como objetivo estimular o uso racional da água e gerar recursos financeiros para investimentos na recuperação e preservação dos mananciais das bacias. A cobrança não é um imposto, mas um preço público fixado a partir de um pacto entre os usuários de água e o Comitê de Bacia, com o apoio técnico da ANA.
Por que cobrar pelo uso da água?
Em função de condições de escassez em quantidade e/ou qualidade, a água deixou de ser um bem livre e passou a ter valor econômico. Esse fato contribuiu para a adoção de um novo paradigma de gestão desse recurso, que compreende a utilização de instrumentos regulatórios e econômicos, como a cobrança pelo uso da água.
Quem cobra?
Compete à ANA operacionalizar a cobrança pelo uso dos recursos hídricos de domínio da União, ou seja, dos rios ou demais cursos d?água que atravessam mais de um Estado da federação.
Para onde vão os recursos arrecadados?
Os recursos arrecadados são repassados integralmente pela ANA à Agência de Águas da Bacia, conforme determina a Lei 10.881, de 2004. Cabe à Agência de Água alcançar as metas previstas no contrato de gestão assinado com a ANA, instrumento pelo qual são transferidos os recursos arrecadados.
Quando se inicia a cobrança?
A cobrança em rios de domínio da União se inicia após a aprovação pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) dos mecanismos e valores de cobrança propostos pelos comitês de bacia hidrográfica.
Fonte: ANA
Com o objetivo de fornecer à comunidade acadêmica e ao setor produtivo uma ferramenta prática de auxílio a processos e tecnologias de pós-colheita de frutas e hortaliças, já esta disponível para download o software CoolSys. O projeto, coordenado pela professora Barbara Teruel Mederos, do Conselho Integrado de Infra-Estrutura Rural da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, foi desenvolvido por uma equipe de professores e alunos de graduação e pós-graduação das engenharias agrícola e química da Universidade, do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) está registrado no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi).
A faculdade congrega docentes e alunos de pós-graduação que atuam na tecnologia de pós-colheita, reunindo linhas de pesquisa e projetos voltados para o desenvolvimento, aprimoramento e aplicação de tecnologias na agricultura brasileira.
Após a colheita, torna-se indispensável estabelecer uma adequada cadeia do frio para que frutas e hortaliças mantenham a qualidade e sejam comerciáveis por maior tempo. A cadeia do frio é constituída pelo conjunto de sistemas e operações que mantêm o produto sob condições de temperatura e umidade relativa dentro dos limites recomendados depois do beneficiamento e até a comercialização. Com isso, se diminui a taxa respiratória e a degradação enzimática, reduz-se a velocidade de desenvolvimento de fungos, a produção de etileno, acelerador natural do amadurecimento, e a perda de água (massa), que afeta a aparência, o sabor, o aroma e a textura. O processo garante produtos mais adequados para o processamento e manuseio.
A professora Bárbara explica que "o CoolSys constitui uma ferramenta que surgiu da necessidade que sentimos ao longo de nosso trabalho de fornecer uma interface gráfica para que o público acadêmico, estudantes de engenharias e o setor produtivo pudessem entender como um produto hortícola fresco se comporta quando submetido a baixa temperatura, ou seja, sob refrigeração, que é uma das técnicas mais usadas hoje para conservação desses tipos de produtos".
Ela trabalhava com uma série de modelos matemáticos e simulações que pela própria natureza são acessíveis a um público muito especifico. Então pensou, juntamente com os professores Teho Kieckbusch, da Faculdade de Engenharia Química (FEQ), Luis Cortez, da Feagri, e Antonio Gilson de Lima, da Universidade de Campina Grande, Paraíba, em utilizar princípios científicos, equacionamentos matemáticos e modelos teóricos em interfaces amigáveis, disponíveis na tela do computador, acessíveis tanto para o público acadêmico quanto para o setor produtivo. Introduzindo os dados minimamente necessários, o usuário obtém rapidamente respostas aproximadas para o que aconteceria com a fruta ou hortaliça ao longo do tempo em relação à diminuição de temperatura quando submetida à refrigeração em determinadas condições, sem necessidade do experimento, nem sempre exeqüível.
Tomando como referência o limão, exemplificado em uma das telas que permite a simulação do processo de resfriamento, Bárbara esclarece: "Ao acessar o programa o usuário precisa informar o diâmetro do fruto, sua temperatura inicial, as dimensões da embalagem, o sentido da circulação do ar refrigerado em relação ao posicionamento da embalagem, a velocidade do ar, para então, obter o tempo necessário para atingir o gradiente adequado de temperatura. Falamos em gradiente porque os frutos em posições diferentes na embalagem, em relação ao sentido da circulação do ar resfriam-se em tempos diferentes e o desejável é que essa diferença seja a menor possível para que não influa na conservação do produto, uma vez que, quanto maior a temperatura, mais acelerado é o metabolismo e mais rápida a perda de qualidade".
Bárbara lembra ainda que a refrigeração não acresce qualidade ao produto, mas visa mantê-la próxima do padrão de consumo exigido pelo mercado durante um certo tempo. O programa permite inclusive determinar a temperatura do ar refrigerado ao longo do processo, que sofre aumento de temperatura enquanto os produtos resfriam.
Modelo - A pesquisadora lembra que o processo apresentado na tela do computador de forma simples e rápida envolve na realidade fenômenos complexos, porque o resfriamento depende de uma série de leis que regem a Mecânica dos Fluidos, a Termodinâmica, a Transferência de Calor e Massa. Além disso, a perda de calor em função do tempo depende das propriedades termofísicas do produto e do ar, da posição, das dimensões e geometria do produto. Fábio Luiz Usberti, que participou do projeto quando ainda aluno de graduação da Feagri e que atualmente é doutorando na Faculdade de Engenharia Elétrica e Computação (Feec), acrescenta: "São muitos fatores e incluí-los todos em um único modelo, em uma única ferramenta, é uma questão bastante complicada. Tanto é que não temos ate agora conhecimento de outra ferramenta disponibilizada que considere todos estes fatores. O que existem são modelos para um único produto, submetido a uma corrente de ar com propriedades consideradas geralmente constantes e que estabelecem condições muito limitantes e, por isso, entendemos que avançamos". Bárbara enfatiza: "Claro que ferramenta, como todo o processo tecnológico, nunca pára. Pretendemos que o trabalho seja continuamente melhorado, o que vai depender de sua aceitação pela comunidade. Ao desenvolvê-lo almejamos uma visão aproximada do que ocorre durante o processo de resfriamento". Verificações experimentais desenvolvidas durante a pesquisa permitiram validar o modelo, pois as diferenças entre os valores obtidos para alguns produtos nos dois procedimentos foram de até 5%, mesmo com as simplificações necessárias em um processo de tal complexidade.
Desenvolvido por equipes multidisciplinares que trabalharam simultaneamente, o CoolSyst está dividido em dois módulos. O Modulo 2 permite simulações e o 1 contém um banco de dados com informações úteis para o usuário com vistas a dinamizar o uso do software. Assim, o item que trata de armazenamento apresenta uma lista de frutas e de hortaliças com os nomes cientifico e usual, a temperatura de conservação recomendada, o tempo de armazenamento para manutenção de qualidade, umidade relativa recomendada, tipo de resfriamento que pode ser aplicado, sensibilidade ao etileno, favorecedor do amadurecimento. Fornece ainda a relação dos produtos que podem ser conservados sob as mesmas condições de temperatura e umidade relativa do ar, dá informações sobre as embalagens disponíveis para cada produto, suas geometrias e capacidades, áreas de abertura, etc. O Módulo 1 apresenta ainda um banco de dados das propriedades físicas e térmicas de frutas e hortaliças, normalmente dispersas na literatura e que são de muita utilidade para cálculos de engenharia de processos e equipamentos, reunindo preferencialmente as informações resultantes de pesquisas realizadas no Brasil. Acompanham os dados as fontes, os métodos utilizados e suas limitações. Bárbara diz que se pretendeu "que o usuário pudesse ter acessibilidade a esse tipo de informações de forma rápida e esperamos que a comunidade nos nutra com os resultados de suas pesquisas para que o trabalho se amplie com mais produtos e variedades".
Aproximação - Um dos grandes objetivos dos pesquisadores desta área ao disponibilizar a ferramenta, segundo Bárbara Teruel, é o de aproximar mais a Faculdade de Engenharia Agrícola do setor produtivo, do produtor, do usuário dessas tecnologias. Ela acrescenta que se procura romper com a idéia geralmente vigente de que na universidade se faz apenas estudos muito científicos e de difícil entendimento. Porque, enfatiza, "são os problemas e as dificuldades do setor produtivo que orientam o desenvolvimento de nossas pesquisas, cujos resultados podem contribuir para melhorar a agricultura, a conservação, as tecnologias, as colheitas e nos apontam para processos otimizados, nos levam a aplicar controles automáticos, procurando uma melhor relação custo-beneficio, atendendo às necessidades emergentes, o que faz aproximar universidade e comunidades".
(Carmo Gallo Netto)
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O acesso aos arquivos para instalação do software CoolSys pode ser obtido, após cadastro, no endereço
Maria Ileide Teixeira vive no assentamento de Mogi Mirim há dez anos. Está criando os netos lá e dá seu depoimento de que não se vê morando em outro local. "É a minha vida e o que me satisfaz. Além de tudo, é o que põe a comida na minha mesa", enfatizou enquanto arrumava as barracas em área livre próxima à diretoria da Faculdade. Vender produtos nas feiras, nas ruas e sob encomenda já mudou a rotina de sua casa. Ela e as amigas se reúnem para pôr em funcionamento o comércio de produtos de padaria, farinha, artesanato, ervas medicinais e processamento de frutas.
Aos 52 anos, Ileide mostra-se disposta e incentiva outras agricultoras a fazer o mesmo. Ela sonha com o futuro, embora dizendo que viver o presente é ter os pés no chão. "Um dia teremos uma padaria ou uma fábrica, repartindo os lucros e as dificuldades", planeja. E estar buscando um contato estreito com a Universidade é para ela uma oportunidade de divulgar o que é feito nos assentamentos e confere "grande peso" para reforçar o trabalho bem-feito, realizado com carinho para o consumidor gostar.
Maria da Glória compartilha desses mesmos sonhos e ressalta que tentar ganhar pelo preço mais baixo pode render boas vendas. Com o dinheiro em mãos, as agricultoras se reúnem para dividir o lucro. "Nosso trabalho não pára. Fazemos tapetes, almofadas e muitas outras coisas. O dinheiro serve para ajudar na compra de material escolar para nossas crianças e na compra do mês", conta.
Unida à causa dos moradores dos assentamentos agrários através de sua pesquisa na Área de Extensão Rural, a pesquisadora Kellen Junqueira comenta que os assentamentos hoje reúnem grupos crescentes de agricultores em áreas de reforma. "Existe um preconceito muito grande projetado para estas pessoas. Mas basta acompanhar por alguns dias o trabalho organizado e garimpeiro que eles fazem para reconhecer seu valor legítimo", afirma.
Estudando o tema desde 1989, Kellen lembra que o artesanato é apenas uma das rotinas desses assentamentos. Recordou que, na Feagri e em outras unidades da Unicamp, há várias iniciativas em relação aos assentamentos. Uma das mais recentes é um projeto financiado pelo CNPq sobre juventude rural. Nele, busca-se conhecer as expectativas dos jovens para dar, ou não, continuidade ao trabalho já efetuado pelas suas famílias pois, para muitos deles, somente o fruto da terra já não mais satisfaz.
(Isabel Gardenal)
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de imagens: Natan Santiago
Desde o início do semestre, cerca de 15 banquinhos estão sendo feitos com capricho para alegrar o Natal das crianças. O presente, que possivelmente será utilizado na brinquedoteca do hospital, será enviado juntamente com uma cartinha, dirigida aos responsáveis pela instituição.
O banquinho, que buscou inspiração no mundo animal, é de MDF, o mesmo material que tem sido amplamente utilizado em armários de cozinha. Os alunos cortam chapas de madeira com serra tico-tico, desenham o molde e pintam. O retoque nas falhas, a atenção e o visual são apenas alguns dos detalhes que pouco a pouco vão se constituindo. O resultado, além de útil, será aprazível para os futuros usuários. É o que garante Beraldo. "Atuamos como em uma oficina, mas em um laboratório, o de Materiais e Estruturas", explica.
O professor é quem dá as orientações do "ofício". Abre um parêntesis para falar de matéria-prima. Enquanto mostra os materiais empregados nas aulas, chega a comentar sobre o futuro da madeira maciça. Lamenta que ela poderá desaparecer, principalmente pela falta de atenção que recebe e diz que muitas pessoas têm se dedicado com afinco ao seu comércio clandestino.
Beraldo conta que quando os alunos chegam ao laboratório dizem que não sabem fazer absolutamente nada. "Aos poucos, passam voluntariamente mais horas no laboratório, descobrindo potenciais ocultos. É uma forma singela de retribuírem o que recebem da Universidade, entregarem o produto para pessoas que nem conhecem e aprenderem trabalhar em equipe", acredita.
Para Beraldo, as duas horas de aulas diariamente equivalem a uma experiência de vida. É ainda uma forma pouco convencional de ensinar. O professor vem ampliando ações neste sentido, com viagens semestrais a Boa Esperança do Sul-SP, local onde os alunos visitam a Ripasa, cuja fazenda-modelo possui cerca e 6 mil hectares de eucalipto. A cidade, destaca ele, é um importante pólo de apicultura.
(Isabel Gardenal)
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de imagens: Natan Santiago
Esse Prêmio é conferido anualmente a docentes ativos que atuam em regime de dedicação exclusiva e que tenham se destacado nas suas funções de docência e pesquisa. Cada unidade de ensino e pesquisa indica um premiado por ano, dentre os docentes que apresentaram relatório trienal de atividades entre 1 de setembro do ano anterior e 31 de agosto do ano em curso. Os premiados são selecionados após várias etapas de exame por especialistas externos à Unicamp. Este prêmio reconhece o desempenho acadêmico excepcional.
O reitor José Tadeu Jorge cumprimentou os ganhadores dizendo que o prêmio tem como tônica o fato de a Unicamp ser a melhor Universidade do país, mostrando indicadores que assim o comprovam na graduação, na pós-graduação e na extensão. "Na graduação, temos a maior porcentagem de 4 e 5 estrelas do Guia do Estudante. Na pós-graduação, temos a melhor média dos cursos de avaliação da Capes. Na pesquisa, temos o maior número de artigos publicados per capita. Na extensão, realizamos na Saúde a maior quantidade de atendimentos e de maior abrangência; é a instituição universitária com o maior números de patentes, bem como de licenciamentos; a Unicamp se sobressai na formulação de políticas públicas", elencou.
Foram contemplados neste 2007 os professores Armando Lopes Moreno Junior (FEC), Bastiaan Philip Reydon (IE), Carlos Roberto de Souza Filho (IG), Cid Carvalho de Souza (IC), Dario Fiorentini (FE), Eduardo Granado Monteiro da Silva (IFGW), Elide Rugai Bastos (IFCH), Fernando Cendes (FCM), Helena Teixeira Godoy (FEA), Iara Lis Franco Schiavinatto (IA), José Antenor Pomilio (FEEC), Kátia Lucchesi Cavalca Dedini (FEM), Marcelo da Silva Montenegro (Imecc), Maria Cristina Cintra Gomes Marcondes (IB), Paulo Elias Allane Franchetti (IEL), Pedro Luiz Rosalen (FOP), Raquel Gonçalves (Feagri), Roberto Vilarta (FEF), Telma Teixeira Franco (FEQ) e Watson Loh (IQ).
O pró-reitor de Pesquisa, Daniel Pereira, salientou os últimos números da Unicamp que expressam sua posição vantajosa no cenário da pesquisa e da educação. "O trabalho da Universidade tem sido contínuo. Os 20 docentes distinguidos no prêmio concorreram com outros 600, mediante análise de currículo. A eles, somente temos a agradecer, pois representam uma parte relevante do que é feito aqui." Para a pró-reitora de Pós-Graduação, Teresa Dib Zambon Atvars, é um orgulho premiar os talentos que têm contribuído de forma diferenciada para suas unidades. "É um esforço coletivo para a construção de uma universidade que não pára", frisou.
Distinção - Eduardo Granado Monteiro da Silva, do Instituto de Física "Gleb Wataghin" (IFGW), é um dos mais novos a receber o Prêmio Zeferino Vaz. Há três anos como docente do Departamento de Eletrônica Quântica, ele acredita que este resultado é uma combinação entre o trabalho docente, qualidade das aulas e de orientação a alunos. Eduardo trabalha na linha de pesquisa "Interações em radiação e matéria".
Já o neurologista Fernando Cendes, da Faculdade de Ciências Médicas (FCM), recebe pela primeira vez tal distinção e a divide com o seu grupo de pesquisa. Cendes acha que, apesar do notável equilíbrio entre suas atividades acadêmicas, o diferencial é justamente a sua produção científica. O médico chegou aos 91 trabalhos publicados em revistas indexadas. "Estas pesquisas têm sido bastante citadas, não somente pelo seu componente teórico. Nossa linha de pesquisa tem uma forte inserção social, pois relaciona-se a problemas de saúde que se refletem, em médio e longo prazo, na melhoria da qualidade de vida e saúde da população. Uma das importantes conquistas do ano para Cendes foi ter ajudado a conceber a Rede Cinapce, que entrou em vigor recentemente. Uma curiosidade: sua mulher, Íscia Lopes Cendes, também da FCM, recebeu o Prêmio Zeferino Vaz de 2006.
(Isabel Gardenal)
Fotos: Antônio Scarpinetti
Edição de imagens: Natan Santiago
Modelo pode ser aplicado em outras culturas
A produção de um óleo de qualidade exige boas sementes. Para preservar-lhes a qualidade, elas precisam ser secadas antes do armazenamento. Mas a temperatura de secagem influi no seu índice de germinação e isto assusta o produtor. A necessidade de manter um alto índice de germinação das sementes de canola após a colheita ? quando ela é máxima ? justifica o estudo do seu comportamento, para que umidade e temperatura utilizadas tradicionalmente possam ser otimizadas. Assim, é assegurado o estabelecimento de condições que assegurem alto teor de germinação após a secagem, essencial para o produtor de sementes e de grãos.
O professor Armando Kazuo Fujii, em campo de canola nos Estados Unidos: principais problemas relativos à perda de qualidade em germinação são causados pelas condições de temperatura e umidade (Foto: Divulgação)Esta preocupação orientou as pesquisas conduzidas pelo professor Armando Kazuo Fujii, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp, que deram origem à tese de doutorado que aborda a "Simulação de secagem de sementes de canola com previsão de germinação", apresentada na Área de Tecnologia Pós-Colheita e orientada pelo professor José Tadeu Jorge.
Fujii diz que "os principais problemas relativos à perda de qualidade em germinação de sementes são causados pelas condições de temperatura e umidade durante a secagem e armazenagem nos processos de manuseio pós-colheita. O conhecimento dos efeitos da velocidade, da umidade e da temperatura do ar sobre a germinação de sementes de canola visa contribuir para melhorar o manuseio dos equipamentos de secagem e armazenagem".
Para a previsão de germinação, o pesquisador aplicou um modelo matemático a um programa de secagem de grãos, com o objetivo de determinar a viabilidade final levando em conta as condições iniciais das sementes (umidade e germinação) e determinadas condições de secagem (temperatura e umidade relativa). A pertinência do modelo matemático utilizado na simulação foi corroborada por dados experimentais, esclarece o docente.
Para ele, dois objetivos foram amplamente atingidos: fornecer subsídios aos produtores de sementes de canola sobre as melhores condições de secagem que permitam reduzir as perdas de germinação e desenvolver um modelo matemático que represente a variação de germinação de acordo com as condições de temperatura e umidade das sementes.
O modelo desenvolvido pelo professor Fujii pode ser aplicado no estudo da secagem de quaisquer outras sementes, como milho, soja, etc. Ele enfatiza que a tecnologia de secagem de sementes tem sido cada vez mais importante para países agrícolas como o Brasil, grande exportador de carnes ovinas, suínas e bovinas, que utiliza forrageiras na alimentação animal. Além disso, pode contribuir para a preservação de várias espécies de madeiras de lei, muitas delas quase em extinção, com vistas a reflorestamentos, pois grande parte das suas árvores se desenvolve a partir das sementes.
O pesquisador realizou os experimentos nos EUA, na Michigan Sate University, com bolsa de doutorado da Capes. A propósito, considera muito importante que todo profissional formado em qualquer área tenha uma experiência no exterior. Defende ainda que aqueles ligados a determinadas atividades mais técnicas, caso das engenharias, adquiram também experiências fora do campo acadêmico, antes de se iniciar nele. E relata sua própria vivência: ?Graduei-me em engenharia de alimentos aqui na Unicamp, trabalhando alguns anos em uma indústria de óleos vegetais. Essa experiência tem sido muito importante na minha atividade como docente. Posso repassar para os alunos muitas das situações vividas e discorrer sobre equipamentos e tecnologias de aplicação industrial?.
Modelo matemático simula índices em várias situações
Em relação à metodologia empregada, Fujii explica que as sementes de canola foram acondicionadas em embalagens herméticas de alumínio, colocadas em banho-maria a temperaturas de 50, 60 e 70 graus Celsius, em diversos tempos de permanência e a partir de diferentes umidades iniciais do produto, para em seguida terem o índice de germinação determinado. Os resultados das germinações nessas diferentes condições ? temperatura do banho-maria, umidade das sementes e tempo de permanência ? permitiram o emprego de uma equação matemática que tem parâmetros que dependem do tipo de semente e variáveis relacionadas à umidade da semente (M) e à temperatura (T), que são utilizadas em um programa secagem de sementes em linguagem FORTRAN.
Com estes dados foi possível simular no computador qual o índice de germinação resultante das condições de temperatura do secador. Depois, o pesquisador submeteu efetivamente as sementes ao secador para comparar os resultados da simulação com os experimentais e constatou-os muito próximos, o que referenda o método teórico.
Fujii conclui esclarecendo que ?através da simulação de secagem eficaz posso definir as condições ideais de secagem, estabelecendo a umidade e a germinação finais desejadas após o processo de secagem, ou ainda, sugerir o processo de operação em um secador comercial disponível para obter a menor redução na germinação?.
Está disponível, para download, o software CoolSys, desenvolvido por uma equipe de professores e alunos, da graduação e pós-graduação, da Faculdade de Engenharia Agrícola e Química da Universidade Estadual de Campinas e do Departamento de Engenharia Mecânica, da Universidade Federal de Campina Grande, na Paraíba, sob a coordenação da Profa. Bárbara Teruel, da Faculdade de Engenharia Agrícola.
O projeto teve financiamento da FAPESP e registro no Instituto Nacional de Propriedade Industrial e visa fornecer à comunidade acadêmica e do setor produtivo, uma ferramenta prática de auxílio a processos e tecnologias de pós-colheita de frutas e hortaliças, contendo módulos de: Armazenamento e Compatibilidade; Embalagens; Propriedades Termofísicas e Simulação do Resfriamento com Ar de Produtos Hortícolas.
O acesso aos arquivos para instalação do software CoolSys pode ser obtido após cadastro no endereço http://www.feagri.unicamp.br/agripaginas.php
Os projetos da Unicamp são coordenados pelas professoras Claudia Bauzer Medeiros e Maria Cecília Baranauskas. O trabalho de Claudia é voltada para informatização de pequenas propriedades agrícolas. O de Maria Cecília é em conjunto com a Prefeitura de Campinas e pretende facilitar o uso de serviços públicos on-line por pessoas com problemas de alfabetização ou com necessidades especiais.
O objetivo do projeto de Maria Cecília é criar sistemas de atendimento via computador simplificados e que permitam acesso a pessoas que tenham dificuldades para acessar informações. Com isso, pode-se ampliar os serviços on-line para a população e agilizar o atendimento no setor público, principalmente entre a população de menor nível escolar e para quem tem dificuldades de deslocamento.
O projeto coordenado por Claudia Bauzer reúne sete pesquisadores, sendo quatro professores doutores do Instituto de Informática, um da Engenharia Agrícola, um do Centro de Estudos e Pesquisas em Agricultura (Cepagri) e um da PUC-Campinas. O trabalho está sendo desenvolvido em conjunto com a Cooxupé, uma cooperativa de plantadores da café de Minas Gerais que reúne 11 mil pequenos produtores.
A FEAGRI, por meio do LABGEO, é parceira, e deverá receber 1 bolsa de mestrado e 1 bolsa de IC. O LABGEO será um dos pontos de conexão com produtores rurais, via sistema de comunicação desenvolvido pelo IC e PUCCAMP
"A cooperativa participa do projeto com investimento, profissionais e com a participação dos cooperados", disse Claudia. Ela diz que o trabalho é dividido em três fases que permitirão aos pequenos agricultores receberem informações relevantes para a atividade agrícola via computador. Por outro lado, mandarão informações de suas propriedades que serão captados por sensores.
Por ter esse perfil de troca de informações entre agricultores e cooperativa, o projeto recebeu o nome de "E-Farms: uma estrada de mão dupla de pequenas fazendas para o mundo em rede". A primeira fase a ser implantada é a concepção da rede de transmissão de dados, que deverá ser via rádio. Um dos principais desafios é que as regiões de plantio de café são em sua maioria em regiões montanhosas. "Nós criaremos o projeto da rede e a cooperativa terá a incumbência de implantar o sistema nas propriedades", disse Claudia.
Outra fase será a criação de bancos de dados com informações que possam ser usadas pelos agricultores e pela cooperativa. Informações meteorológicas, técnicas, cotações e serviços poderão ser obtidos. Os dados das propriedades rurais também abastecerão esses bancos de dados, que servirão para definir políticas agrícolas e estratégias da cooperativa. A terceira fase será colocar essa tecnologia à disposição de outros interessados. "O projeto é voltado para cafeicultores, mas ele poderá ser usado para outras culturas. Basta adaptar os programas, mas a rede e transmissão de dados será a mesma", disse a pesquisadora.
O processo de seleção teve pelo menos dois pareceres para cada proposta, incluindo assessores de centros de pesquisa estrangeiros. A previsão é que outros projetos sejam aprovados para os próximos cinco anos. A segunda chamada deverá ser lançada no primeiro semestre de 2008.
O reitor da Unicamp, José Tadeu Jorge, explicou na abertura do Simpósio que a Universidade se envolve num assunto como esse para contribuir com geração de conhecimento. "Não basta ter simplesmente uva e saber transformá-la em vinho", disse. "É preciso ter qualidade e isso somente se domina com conhecimento". Tadeu Jorge não considera tal tarefa fácil, uma vez que a uva tem características muito particulares. "É necessário agregar tecnologia que se adapte à matéria-prima utilizada. Isso também envolve conhecimento", lembrou.
Ele ainda acrescentou que a Unicamp desenvolve através deste evento o seu papel de articuladora entre Poder Público, empresas e associações de classe. Isso sem falar em seu importante papel na formação de recursos humanos de qualidade na graduação, na pós e no ensino técnico. "Que outro personagem faria melhor esta articulação", indagou o reitor.
Avanço
- Em 39 anos de estudo do vinho, o consultor do Grupo Pão-Açúcar, Carlos Ernesto Cabral, ao falar sobre a vitivinicultura no Brasil e na América Latina, comentou que a atual revolução não segura mais o Brasil. "É uma questão de honra. Até 1990, nem estávamos abertos à exportação, à política no segmento e à legislação. Mas, com as portas escancaradas do mercado, o Brasil pôs seu foco nessa realidade", relatou. "Tínhamos apenas um curso técnico em Bento Gonçalves e somente olhávamos para o nosso umbigo: achávamos os nossos vinhos os melhores do mundo."
"O mercado, porém, é predador. O cliente sempre nos troca por dois tostões, pois a coisa mais difícil de se conseguir é a fidelidade dele. Tanto que hoje apenas 49% do vinho consumido no Brasil é vinho nacional. Já chegamos a 70%, o que prova que temos perdido mercado para outros países", pontuou.
"O vinho pode pagar a dívida do país", afirmou Antonio Junqueira. Ele apontou ainda que o Estado de São Paulo consome 50% do vinho produzido pelo Brasil e gira 33% do agronegócio. "O Chile se preparou para exportar desde a década de 20. A fruticultura de lá já era excepcional. E, depois de 100 anos produzindo apenas para seu país, tomou a coragem de sair pelo mundo", disse. O Simpósio, coordenado pelo professor Cláudio Messias, está sendo organizado pela Coordenadoria de Relações Institucionais e Internacionais (Cori) e pelas Faculdades de Engenharia de Alimentos (FEA) e de Engenharia Agrícola (Feagri).