A audiência teve por objetivo discutir o real impacto da produção de etanol no meio ambiente e foi realizada em atendimento a requerimento de autoria do senador João Tenório (PSDB-AL), presidente da subcomissão. Participaram dos debates Laura Tetti, ambientalista e consultora da União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Única); Luiz Cortês, professor de Engenharia Agrícola da Unicamp; Manoel Régis Lima Verde Leal, doutor do Centro Nacional de Energia Alternativa; e o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ).
Laura Tetti disse que a cana é uma das atividades que apresenta o mais baixo índice de erosão do solo - "matéria-prima básica até para o crescimento da vegetação nativa". Esse é um dado muito importante e deve ser levado em conta, disse a consultora. Ela fez uma comparação entre a cana e a soja, afirmando que esta última, tida como símbolo da modernidade, apresenta, no entanto, um nível de erosão do solo 62 vezes maior do que a cana. Disse ainda que a mamona tem índice de erosão 235 vezes maior do que o da cana, acrescentando que a cana tem também o menor uso de defensivos agrícolas.
Para Laura Tetti, existe uma discussão emocional em torno da ampliação das plantações da cana de açúcar para uso do etanol, baseada em projeções e mazelas praticadas pelo setor no passado.
- Existe tendência de projetar na planta cana os vícios, as mazelas as injustiças e práticas do processo de colonização do passado. O Brasil teve problemas graves em função desse processo, mas não deve projetar isso na cana-de-açúcar - afirmou a consultora da Única.
Laura Tetti informou que o ganho de produtividade da cana é de 4% ao ano, ou seja, a cada ano o volume de rendimento da cana em um hectare plantado aumenta 4%. Para ela, esse percentual "é muito bom".
A consultora abordou ainda uma questão polêmica, que é a queima da palha do canavial, um dos processos de produção que facilita o corte manual e aumenta a produtividade do cortador de cana, criticado por ambientalistas por liberar gás carbônico e demais gases que prejudicam o meio ambiente. Para Laura Tetti essa prática é inaceitável, pois há processos melhores, com uso de mecanização, que resolveriam esse problema. Ela observou, inclusive, que o ganho de 4% de produtividade é medido levando em conta a maneira de produção atual, com a queima da palha.
- Mas não se pode associar a queima com a questão da cana, seria um erro conceitual- afirmou Laura Tetti, observando ainda que o uso do etanol contribuirá para a redução do aquecimento global.
Dadas as peculiaridades agrícolas da cana de açúcar no Brasil, cada tonelada desse produto direcionada para a produção de álcool combustível, conforme a consultora, absorve 0,18 tonelada de CO2, já contabilizadas as emissões resultantes do processo industrial e da queima do álcool como combustível.
Produção
O setor sucroalcooleiro é o mais organizado do país, utiliza alta tecnologia e movimenta cerca de R$ 15 bilhões, afirmou Luiz Cortês. Para o professor de Engenharia, a questão da elevação da temperatura do planeta é um assunto importante que estará em pauta nos próximos 50 ou 100 anos e terá que ser levado em conta, restando a discussão de opções a serem adotadas.
Os biocombustíveis, segundo Cortês, podem melhorar essa situação e são uma opção interessante para o país, pois "existe espaço para aperfeiçoar a tecnologia com a produção do etanol da cana de açúcar". Segundo o professor, se tudo for feito da melhor forma, a temperatura da Terra vai aumentar 1,5 grau. Se nada for feito, a temperatura aumentará 4 graus.
- O uso do álcool é a melhor opção do mundo em termos de combustível - disse.
Helena Daltro Pontual / Agência Senado