Ser aluno de pós-graduação é ser um pesquisador em formação. O doutor, formalmente habilitado a fazer pesquisa, encontra-se na fronteira do conhecimento de um tópico específico. Só que esta fronteira não é fixa e pesquisadores e outros alunos de pós-graduação em todo o mundo estão trabalhando para avançá-la. Deste modo, você precisa se manter atualizado (afinal, “estamos nos apoiando nos ombros de gigantes”) até que possa fazer sua própria contribuição. O objetivo deste texto é provê-lo com ferramentas que têm sido úteis para mim neste processo (que eu estou começando, na verdade) de capacitação em pesquisa. Notem que esta é a minha experiência e que eu tenho estado satisfeita com ela, mas que ela não necessariamente é válida para todas as áreas do conhecimento e nem para outras pessoas (sequer para mim mesma pelos próximos anos, possivelmente). É bom avisar porque né, internet.
Primeiramente, para descobrir artigos novos eu uso alertas e agregadores de feed. Desbravar uma nova área de literatura requer um mergulho na bibliografia, com buscas em bases indexadoras e estratégias sobre data da publicação e número de citações que eu não vou abordar aqui. Minha ideia é apresentar ferramentas que trarão exclusivamente conteúdos novos, recém-publicados, até sua caixa de email ou celular. Várias bases indexadoras possuem alertas, mas os que eu uso são do Google Scholar. Eu indico palavras-chave e, duas a três vezes na semana, recebo emails com tudo de novo (até 20 resultados) que foi indexado pelo Scholar para aquelas palavras-chave. Admito que eu preciso filtrar bastante coisa, porque a maior parte está longe de ser interessante, mas eu fico confortável de saber que eu tenho um radar bem amplo para as novidades. Eu não tenho muita certeza quanto a adotar este tipo de estratégia no mestrado. Dependendo da sua área, pode haver muita informação nova e, como você ainda não está muito preparado para filtrar, isso pode ser uma sobrecarga grande e pode tirar o foco que você deve ter na sua capacitação mais ampla.
Minha outra abordagem é acompanhar os feeds de alguns periódicos. Periódicos que são importantes na minha área ou periódicos em que eu pretendo publicar foram adicionados ao agregador de feeds que eu uso (no momento é o Feedly, mas eu vou te amar para sempre, Google Reader) de modo que todo artigo que sai nestas revistas aparece para mim como uma notícia de jornal. Isso não elimina o paywall dos periódicos (aliás, você já ouviu falar do Unpaywall?), então os artigos que me interessam eu salvo para ler depois, na rede da universidade. A maior vantagem de acompanhar um periódico, provavelmente, é ter noção do que a revista tem publicado (o famoso escopo) e se há chances de meu trabalho ser publicado lá ou se o que eles publicam não tem muito a ver com a minha linha de trabalho.
Este tanto de artigos descobertos é, então, organizado no meu gerenciador de referências. Aqui eu vou ajudar *e* confundir, porque eu uso dois gerenciadores de referência: Mendeley e Docear. O Mendeley me atrai pela facilidade da integração com o Word. Mais recentemente, ele também tem sido atrativo pela recomendação de artigos, que me ajudou a descobrir vários trabalhos mais antigos. No geral, porém, meu uso mais amplo é para inserir citações e para alternar com facilidade entre estilos de referências, além da própria organização da bibliografia e correção dos metadados (as informações do artigo que são utilizadas na composição da referência). No Docear, eu organizo minhas ideias após as leituras. Apesar de ele também ter o plugin para integração com o Word, são os mapas mentais que me levam a usá-lo. Como a interface dele é menos atraente do que a do Mendeley, eu sugiro que você se dedique a ele apenas se tiver tempo para ler todas as instruções de uso. Aliás, existem vários gerenciadores de referência, cada um com características específicas. Qual você vai escolher fica a seu critério, mas utilize um gerenciador. Seu tempo é precioso demais para ser desperdiçado digitando todas as informações de uma referência bibliográfica.
Depois de organizar a bibliografia e as ideias, é só partir para a escrita. Neste ponto, eu tenho bem menos experiência e apenas deixo como sugestões os cursos do professor Volpato (procurem o canal dele no Youtube para acesso a vídeos) e, para quem quer praticar o inglês, da professora Sainani. Aliás, sobre escrita também há o Writing for Research, que tem textos excelentes (mas também é em inglês e não cobre todas as áreas do conhecimento).
Por fim, uma dica absoluta: façam backup. Se possível, façam backup físico e na nuvem. Não vale a pena correr o risco de desperdiçar horas ou dias de trabalho. Em um próximo texto (será?) eu pretendo comentar sobre as ferramentas de pós-publicação com as quais eu me deparei nos últimos tempos. Até lá. :)