A tecnologia, inédita, desenvolvida por pesquisadores da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), se resume a um catalisador de alto desempenho a base de etanol.
O óleo saturado ? mil litros diários recolhidos basicamente em bares e restaurantes da cidade ? é submetido a uma reação química para a quebra a cadeia de carbono. Após a decantação do material coletado em tambores, o óleo depurado é aquecido e posteriormente submetido à ação dos reagentes que o transformam em combustível. A substância descartada pelo processo, a glicerina, também pode ser aproveitada, já que interessa à indústria de cosméticos.
A usina provisória reúne, em um espaço de apenas 100 metros quadrados, uma caldeira e um reator. Os equipamentos e os tubos de ensaio usados na análise química do óleo coletado foram instalados pela própria Unicamp.
É que o autor da técnica, Antônio José da Silva Maciel (professor da Faculdade de Engenharia Agrícola), mora na própria cidade. Ele e o químico Osvaldo Lopes (da mesma faculdade) montaram o laboratório no barracão e ensinaram as noções básicas da análise química a dois funcionários do Serviço Autônomo de Água e Esgotos (Saae), que hoje respondem pela operação da usina.
Lutero Lima Júnior (ex-eletricista da autarquia) e William Aparecido dos Santos (gerente do setor) vestem camisetas e calças surradas. Passam o dia inteiro no barracão calorento, analisando amostras e abastecendo tanques. Por hora, a usina não precisa de mais ninguém. Uma batelada, como é conhecido o processo inteiro, leva só 40 minutos para transformar cem litros do óleo saturado em biodiesel.
Mas a tecnologia entusiasmou de tal forma a Administração municipal que o prefeito José Onério da Silva (PDT) planeja inaugurar uma usina maior na gleba da Estação de Tratamento de Esgoto do Córrego Barnabé. A usina, orçada em R$ 4 milhões, vai empregar mais gente e terá capacidade de fabricar 10 mil litros de biodiesel a cada dia. Mas ninguém tem pressa de executar o projeto. Hoje, diz o prefeito, a produção modesta, improvisada no barracão, é suficiente. A idéia é, no futuro, usar biodiesel em toda a frota da Prefeitura. Em seguida, planeja, o combustível limpo poderá ser até vendido.
José Onério comemora a adesão dos moradores ao projeto. Hoje, a população já entrega em 14 pontos de coleta espalhados pela cidade cerca de 30% do óleo que abastece a usina. As crianças da rede pública de ensino acompanham as explicações dos funcionários de olhos atentos. ?Cuidamos da natureza com combustível mais limpo e geramos emprego nas usinas?, diz o prefeito.
Tecnologia atrai atenção de indústrias de todo o País
A tecnologia desenvolvida pela Unicamp para a produção do biodiesel já atrai o interesse das linhas industriais. O produto patenteado pelos professores vai ser usado pela Biocamp, que é uma fornecedora de combustível limpo instalada em Campo Verde (MT). Pelas estimativas dos pesquisadores Maciel e Lopes, a empresa vai estar produzindo 60 milhões de litros a cada ano do combustível desenvolvido na Unicamp.A aplicação industrial do produto pode ser maior, já que o catalisador é eficiente não apenas com óleo vegetal, mas também com gordura animal. A produção do biodiesel em Indaiatuba também já chamou a atenção de uma fábrica de café orgânico de Itu. O sistema de torrefação será movido pelo combustível limpo, assim que o Saae obtiver autorização para vender o biodiesel que sai do barracão.
Segundo o prefeito José Onério (PDT), a própria Unicamp intermedia a negociação com a Agência Nacional de Petróleo (ANP) a chancela técnica que ateste a qualidade do produto. Quem também está de olho na produção é o Instituto Harpia Harpyia, organização laica fundada por dom Mauro Morelli, bispo católico que fundou, em Indaiatuba, uma rede de serviços assistenciais. (RV/AAN)